Bons hábitos alimentares e atividades físicas regulares, são muito importantes para conseguir viver mais e melhor, no entanto, pode não ser o suficiente. Já ouviu falar em Ikigai? A procura de significado para a nossa existência é algo inato a todos os seres humanos. Alguns dedicam a sua vida à carreira profissional, outros à vida familiar, outros aos seus passatempos, mas o que todos todos em comum é esse factor diferenciado que nos ter uma razão para sair da cama todas as manhãs é indispensável para sermos felizes. Dar um sentido à nossa vida dá-nos motivação para continuar a viver com alegria e intensidade, mesmo após a reforma. Todas as pessoas têm dentro de si, uma paixão, um talento que pode e deve ser explorado. Essa busca incessante por uma razão de viver é transversal a todas as culturas, mas se há povo que dá especial valor a este conceito é o povo japonês. Não é por acaso que a sul do Japão existe uma ilha onde os habitantes vivem mais tempo do que as pessoas que habitam qualquer outro lugar do mundo. Chama-se Okinawa e, especialmente a norte da ilha, o número de centenários por cada 100 mil habitantes é superior à média mundial. “Supercentenários” que alcançam o maior índice de longevidade do mundo e ultrapassamos 110 anos de idade. Qual é o segredo da população de Okinawa? Como é que os centenários japoneses vivem mais tempo e felizes até ao fim dos seus dias? Duas perguntas que Héctor Garcia e Francesc Miralles decidiram responder no seu livro Ikigai — Viva bem até aos cem (Albatroz). Durante o período de pesquisa para o livro, Héctor Garcia descobriu que a população japonesa que vivia nas zonas rurais tinham o seu Ikigai mais focado na família e comunidade, correspondendo à ideia de que o Japão é uma sociedade coletiva, com sentido de comunidade e objetivos comuns bem enraizados. Pelo contrário, nas sociedades ocidentais incentiva-se mais o desenvolvimento individual, do ‘eu’, pelo que aí o Ikigai é baseado essencialmente na carreira profissional. Nas palavras do autor, “saltamos de trabalho em trabalho em busca de mais dinheiro, sempre à procura de ser melhor do que o outro, mas no final sentimo-nos sozinhos. Se, pelo contrário, criarmos um grupo, quer seja no trabalho ou fora dele, se partilharmos interesses com alguém, desenvolvemos uma sentimento de partilha e pertença que nos fará mais felizes”. A palavra Ikigai é de uma junção das palavras “Ikiru”, cujo significado é “viver” e “Kai”, que é algo como “a realização do que se espera”. Juntas, essas duas definições levam-nos à “uma razão para viver”, ou seja, “um propósito de vida”. Ikigai é uma filosofia de vida, onde a busca pelo seu propósito e a sua realização têm grande peso na vida de uma pessoa.
Como podemos ver, o diagrama do Ikigai é composto pelas seguintes esferas:
O que EU amo fazer O que EU faço bem O que me pagariam para fazer O que o mundo precisa
As intersecções dessas esferas, mostram mais profundamente sobre seus ideais:
O que EU amo fazer + O que EU faço bem = Paixão O que EU faço bem + O que me pagariam para fazer = Profissão O que me pagariam para fazer + O que o mundo precisa = Vocação O que o mundo precisa + O que EU amo fazer = Missão
Qualquer actividade que fazemos está numa dessas interseções dos conjuntos e o Ikigai está no centro, é a junção de todas, o verdadeiro propósito de vida. Conseguindo encontrá-lo, além de obter sucesso nos negócios, viverá com mais qualidade e melhor, pois estará satisfeito e feliz.
Para Yuta Toga, artista residente em Tóquio, o Ikigai é um processo de edição: “adicione coisas que gosta e exclua as coisas que não gosta. Não faça as coisas com pressa. O seu Ikigai está naquilo de que gosta de fazer todos os dias”. Para mim é não acordar de manhã no modo automático, mas o que nos faz acordar todos os dias com vontade de realização e energia, é aquilo que realmente nos apaixona e faz os nossos olhos brilharem.
Obviamente, encontrar o Ikigai não deve ser encarado como uma obsessão. Afinal, o conceito entende que a nossa razão de viver também é mutável: não precisamos ter as mesmas paixões durante toda a vida. O essencial é encontrar coisas que nos façam felizes, sem a necessidade de pensar em grandes objetivos. Às vezes, esse propósito pode ser ajudar pessoas, escrever, plantar um jardim, cantar. E, claro, é possível cultivar diversos ikigais ao mesmo tempo.
As 10 regras que os japoneses indicam que permitem viver de acordo com o seu ikigai e viver feliz até aos 100 anos são:
1. Manter-se sempre ativo . Até que a saúde os permita, os japoneses continuam a trabalhar em atividades que lhes façam bem e tragam conforto. “Quem abandona as coisas que ama e sabe fazer, perde o sentido da vida”, escrevem os autores. O fim da vida laboral “oficial” não deve travar-nos de “fazer coisas que tenham valor”, como por exmeplo ter um hobby e “dar forma ao nosso pequeno mundo”.
2. A calma deve imperar. O stress é uma das maiores causas do envelhecimento. Em Okinawa, as pessoas sabem organizar seu tempo de forma eficiente e com isso costumam levar uma vida sossegada. A pressa, segundo García e Miralles, é “inversamente proporcional à qualidade de vida”. Quando deixamos para trás as urgências, o tempo e a vida ganham um novo significado.
3. Não coma até ficar cheio. As refeições dos habitantes da Vila de Ogimi são ricas em peixe, legumes, tofu, batata-doce, etc. Além da alimentação saudável e do baixo consumo de sal, há outro fator que contribui para a boa saúde deles: O hábito de parar de comer quando estão 80% satisfeitos. Segundo estudos, o cérebro demora 20 minutos registrar que o estômago está cheio. Além de pararem antes de estarem completamente saciados, os japoneses costumam comer em pequenos pratos para evitar excessos na alimentação. Com isso, o corpo não sofrerá tanto desgaste para digerir tanta comida e nem estaremos ingerindo calorias em excesso a cada refeição que é o que acaba acontecendo quando comemos movidos pelo impulso.
4. Tenha bons amigos. Amigos verdadeiros são as melhores coisas que podemos ter na vida. São como um remédio que nos ajudam a esquecer as preocupações e nos apoiam nos momentos mais conturbados das nossas vidas. Ao lado deles, podemos “contar e ouvir histórias que nos façam sorrir, pedir conselhos, nos divertir juntos, compartilhar sonhos, … enfim, viver”. No Japão, as comunidades criam associações para que os habitantes estejam mais próximos uns dos outros e possam praticar atividades juntos, criando um forte vínculo de amizade e cooperação entre eles. O sentimento de segurança que a amizade proporciona, contribui para uma maior satisfação pela vida e evita doenças tais como a depressão.
5. Esteja próximo da natureza. Fomos feitos para nos fundirmos com a natureza”, garantem os dois autores. E precisamos estar em contato com ela regularmente, a fim de recarregar as “baterias”. Para você ter uma ideia, existe até uma terapia muito famosa no Japão chamada Shinrin-yoku, que consiste em um “banho de floresta” para relaxar e repor as energias vitais. Boa parte dos japoneses também gostam de cultivar hortaliças e flores no seu quintal e esse hábito ajuda a ocupar a mente e ajuda também a fortalecer esse vínculo com a natureza.
6. Sorria. Maemuki é uma expressão japonesa que significa olhar para frente, ser positivo em relação a tudo que acontece a nossa volta. Mesmo nos momentos mais obscuros, é importante não esquecer que a vida está sempre em constante mudança. Não há mal que dure para sempre, nem há tristeza que não acabe. Por isso, procure celebrar cada minuto da sua vida. E não esqueça que o sorriso é uma arma poderosa, capaz de desarmar até os nossos piores inimigos. Manter o sorriso constante nos lábios também nos ajuda a estabelecer relacionamentos mais amistosos e incentiva-nos a encarar a vida de uma forma mais calma e feliz.
7. Faça exercício físico. Desde a mais tenra idade, os japoneses são incentivados a praticar atividades físicas nas escolas e esse hábito estende-se até a vida adulta e 3ª idade. Como sabemos, o exercício físico proporciona qualidade de vida e é importante para manter a saúde do corpo, além de ajuda-lo a produzir hormonas que trazem sensação de bem estar e felicidade. O uso da bicicleta na vida quotidiana, as caminhadas pelos parques e as reuniões nas comunidades para a limpeza do bairro, eventos recreativos, ou ainda para a famosa ginástica matinal, o tai-chi, ajudam a preparar o corpo para mais uma novo dia.
8. Seja grato pelo que tem. Além do agradecimento antes e depois das refeições, os habitantes de Okinawa sabem da importância de “ser grato”. Por isso, costumam reservar um momento do dia para para agradecer as bênçãos que recebem. “Ter consciência da inconstância das coisas não deve entristecer-nos, mas sim ajudar-nos a amar o presente e as pessoas que nos rodeiam”. Dedique um momento do dia para agradecer e a sua felicidade aumentará. Mas a que ou a quem devemos agradecer? Aos antepassados, à natureza, à família, aos amigos, ou seja a tudo que ilumina o seu dia e que faz sentir-se feliz por estar vivo.
9. Viva o momento. No Japão, existe um provérbio que diz assim: “Ashita wa ashita, kyo wa kyou”, que significa, “Amanhã é amanhã, hoje é hoje”. Esse provérbio explica tudo. Precisamos viver um dia de cada vez. Muita vezes sem darmos conta, acabamos por deixar de viver muita coisa boa sempre que a nossa atenção se volta para o passado ou para o futuro. Viver o momento presente com intensidade, permitindo experimentar coisas novas sempre que possível, deve ser prioridade nas nossas vidas. Agindo assim, ajudará a levar a vida sem tanto stresse, além de evitar que nossa vida caia na rotina.
10. Pratique a resiliência. Esta não passa da capacidade de lidar com as adversidades e recuperar o sentido da vida – o ikigai. A resiliência (ou capacidade de ser persistente) é uma atitude que podemos desenvolver para nos mantermos focados no que é verdadeiramente importante na vida e não no que é urgente, sem nos deixarmos levar por emoções negativas. Uma pessoa resiliente sabe concentrar-se nos seus objetivos, naquilo que é importante, sem desanimar. A sua força vem da flexibilidade, da capacidade de se adaptar às mudanças e às fatalidades do destino. Siga o seu ikigai e viva saudável-mente!